Introdução: A Polêmica em Torno da Maconha e Demência
Recentemente, uma pesquisa canadense publicada pela CNN Brasil associou o atendimento médico por uso de maconha a um aumento no risco de demência. O estudo analisou dados de mais de 6 milhões de adultos e identificou um risco 23% maior de demência entre aqueles que procuraram cuidados de saúde relacionados ao uso da planta.

Estudo incompleto e parcial
O estudo analisou dados de mais de 6 milhões de adultos canadenses com 45 anos ou mais, identificando 16.275 indivíduos que procuraram atendimento médico devido ao uso de cannabis. Entre esses, 5% foram diagnosticados com demência em cinco anos, e 19% em dez anos, representando um risco 23% maior em comparação com aqueles que receberam atendimento por outras causas e 72% maior em relação à população geral. CNN BrasilNo entanto, é crucial destacar que o estudo se concentrou exclusivamente em indivíduos que buscaram atendimento médico por questões relacionadas ao uso de cannabis, o que representa uma fração específica da população de usuários. Essa abordagem não contempla usuários que não necessitaram de cuidados médicos, limitando a generalização dos resultados para toda a população de usuários de cannabis.
2. Crítica ao Estudo Canadense: Viés de Seleção e Falta de Representatividade
O principal problema do estudo é que ele se restringiu a usuários de maconha que procuraram atendimento médico por problemas relacionados à planta. Ou seja, considera apenas pessoas já em estado de vulnerabilidade clínica, o que não representa a totalidade dos usuários.
É importante ressaltar que a proibição da cannabis em muitos países tem historicamente dificultado a realização de estudos mais abrangentes e conclusivos sobre seus efeitos.
Buscamos aqui demonstrar que essa pesquisa não cumpre os critérios necessários para ser considerada cientificamente confiável. Ela é limitada em escopo e metodologicamente enviesada, o que compromete sua validade geral. A seguir, apontamos os motivos.

Para que uma pesquisa sobre os efeitos da cannabis na demência seja considerada confiável, seria necessário abranger uma amostra representativa de toda a população, incluindo usuários e não usuários da planta, independentemente de terem procurado atendimento médico, incluindo todos os perfis — desde pessoas saudáveis até aquelas com histórico de doenças neurológicas.A limitação do estudo canadense gera um viés de seleção que impede a generalização dos resultados para toda a população.. Somente assim seria possível estabelecer uma relação mais precisa entre o uso de cannabis e o risco de desenvolver demência.
3. Pesquisas que Indicam Efeitos Protetores da Maconha
Contrariando a narrativa alarmista, estudos recentes sugerem que compostos presentes na Cannabis sativa podem exercer efeitos neuro protetores.
Estudo da Upstate Medical University (2024)
Publicado em 2024, este estudo analisou mais de 4.700 adultos com 45 anos ou mais e concluiu que o uso recreativo de maconha estava associado a uma redução de 96% na probabilidade de relatar declínio cognitivo subjetivo (SCD) — um dos primeiros indicadores de demência.
Fonte: Neuroscience News
Revisão sobre Compostos Neuroprotetores (2022)
Outra revisão, publicada pela News Medical Life Sciences, destacou que canabinoides, terpenos e flavonoides da maconha têm potencial para:
Reduzir neuroinflamações;
Combater o estresse oxidativo;
Inibir a formação de placas beta-amiloides (relacionadas ao Alzheimer).
Fonte: News Medical
4. O Efeito da Proibição na Produção Científica
A ciência sobre a maconha ainda é limitada — não pela falta de interesse científico, mas por barreiras legais. A planta segue classificada como substância de Classe I em países como os EUA, o que restringe severamente:
O acesso a amostras de qualidade;
O financiamento de pesquisas clínicas;
A obtenção de licenças para testes em humanos.
Esse cenário impede que estudos mais amplos e conclusivos sejam realizados. Ou seja, a própria proibição bloqueia o desenvolvimento das evidências exigidas para revisar a legalidade da planta.
5. Conclusão: Uma Abordagem Científica e Sem Preconceitos
As alegações de que a maconha causa demência devem ser vistas com cautela. O estudo canadense é limitado, e não representa adequadamente o universo dos usuários. Em contraste, evidências emergentes apontam possíveis benefícios neuroprotetores da planta, especialmente quando usada com responsabilidade.
Para que a ciência avance de forma honesta e eficaz, é necessário romper com o paradigma proibicionista que impede a livre investigação e perpetua mitos desatualizados sobre a maconha.